Reativar: Lugares, Naturezas e Culturas

Resumo:

As comunidades para as quais as atenções desse projeto estão voltadas pertencem ao município de Aparecida de Goiânia, município que protagoniza um dos mais complexos fenômenos de conurbação no Estado de Goiás. Este projeto lança-se ao seguinte desafio: recuperar, entre os membros da comunidade local, seus conhecimentos tradicionais e práticas de uso da natureza, colocá-los em circulação no âmbito da escola, e depois fazê-los retornar ao domínio da comunidade sob a forma de estratégias alternativas de desenvolvimento humano, destinadas a estruturação de um modelo integrativo de gestão local do ambiente.

 

Cartaz do Reativar

Justificativa:

 A cidade de Aparecida de Goiânia, que compõe a chamada “grande Goiânia”, encontra suas origens ainda no último quartel do século XIX. Atualmente, irrompem no interior de seus limites municipais centenas de novos núcleos de habitação, comércios e indústrias que foram literalmente empurrados para fora da capital, devido a esta última já ter esgotado suas reservas de áreas não edificadas, restando somente algumas porções de terras pertencentes, na sua maior parte, a especuladores imobiliários. Tal processo de conurbação revela-nos realidades multifacetadas e complexas, principalmente porque naquele município, outrora rural, evidenciam-se novos campos de tensão marcados pela coexistência assimétrica entre pelo menos três diferentes grupos de moradores: um primeiro grupo caudatário da população tradicional do município; outro constituído de migrantes provenientes das mais variadas localidades do país; e um terceiro composto por uma população flutuante, oriunda de Goiânia e interior, atraída pelas novas possibilidades de emprego - cada um desses dois últimos grupos de moradores buscando alternativas de estabelecimento e vinculação com o novo território.

Um dos resultados mais imediatos desse processo de ocupação sobre o município de Aparecida de Goiânia pode ser percebido sob a forma do desaparecimento de antigas práticas de produção e conhecimentos ambientais que vão cedendo passo as “modernas” técnicas de exploração do solo, armazenamento, transporte, transformação e comercialização da produção. Somado a isso, assisti-se a uma enorme tensão provocada pela imediata condição de desestruturação sócio-cultural que experimenta as populações de migrantes que chegam ao município de Aparecida, uma vez que deixam para trás suas referencias sócio-ambientais e culturais que dão sentido ao mundo. 

São bem conhecidos os fatores que respondem pelo acelerado processo de modificação dos sistemas mundiais de produção, e, por conseguinte, o aumento de populações vivendo sob condições de impacto. O professor de ciências ambientais, Emilio F. Moran (2011) faz um rápido balanço lembrando-nos que não apenas quintuplicamos a quantidade de áreas agricultadas nos últimos três séculos como também, nos últimos sessenta anos, passamos de 2,5 bilhões para 6 bilhões de habitantes, o que explica o crescimento demográfico e os hábitos de consumo, serem, em conjunto, os principais fatores responsáveis pela geração de fenômenos que alteram o sistema planetário. Quanto à substituição do regime familiar de produção para o agronegócio, Moran adverte-nos ainda sobre a ocorrência, ao longo das três últimas gerações, de uma radical mudança na forma de relacionarmos com o meio ambiente. Tal quadro de modificações que afetou (e afeta) esse município abre a seguinte questão: Se um dado conjunto que inclui pessoas, suas práticas e conhecimentos ambientais é substituído por outro, para aonde ele é mandado, já que, por princípio, não pode ser incluído nos planos daquele que o substitui? Pensamos que a resposta a esse questionamento é facilmente encontrada nas periferias de Aparecida de Goiânia. Lá se encontra atualmente a maior parte das famílias que outrora lavravam a terra, sejam na condição de proprietários, sejam na condição de meeiros, parceiros, agregados ou arrendatários. Todas elas empurradas para fora de seus antigos locais de existência devido às estratégias de apropriação imobiliária perpetradas por agroindústrias e outros seguimentos da indústria ou do comércio. Contudo, sabemos que aqueles saberes, práticas e “modelos locais da natureza”, que compunham as formas anteriores de produção e relação com o meio ambiente, não desapareceram por completo. Ainda subsistem nos escombros dessa desterritorialização, tanto presas às memórias dos mais velhos como recriadas em pequenas ações e hábitos cotidianos. Com base nesta certeza, este projeto lança-se ao seguinte desafio: verificar se as populações que ora compõe o município de Aparecida de Goiânia são capazes de recuperar seus antigos conhecimentos, práticas e “modelos locais da natureza” e depois estruturá-los na elaboração de políticas alternativas de desenvolvimento. Neste contexto, devemos olhar os impactos socioambientais decorrentes de tal processo como sendo a ação de um modelo de produção dentro do qual natureza e sociedades, além de estrategicamente percebidas como realidades dissociadas uma da outra, ambas são apropriadas como meros recursos destinados a satisfação de interesses políticos e econômicos.

 

Objetivos:

 Objetivo Geral:

 Desenvolver práticas educacionais e ações integradas de pesquisa, envolvendo escolas,

prefeitura e comunidades locais do município de Aparecida de Goiânia, com a finalidade de reativar modelos locais de natureza e reintroduzi-los nas práticas sociais e educacionais dessas comunidades.

 Objetivos específicos:

 1 Realizar estudos no campo da história ambiental e da interculturalidade, nos espaços regionais do município de Aparecida de Goiânia, na perspectiva da compreensão da produção social de sistemas cognitivos adaptados ao meios físicos e bióticos de tais regiões;

 2 Entender como se dão as relações entre os antigos conhecimentos e práticas baseadas no lugar e as modernas práticas de produção baseadas no modelo atual de desenvolvimento;

 3 Investigar as diferentes perspectivas culturais acerca da relação homem-natureza, bem como analisar as diferentes percepções sociais relacionadas ao meio ambiente;

 4 Compreender, no âmbito dos processos históricos de deslocamento de populações, no

interior desse município, as intrincadas dinâmicas de significação e re-significação de elementos da natureza que se dão entre as populações em transito, as populações recém chegadas e as populações há muito estabelecidas;

 5 Desenvolver práticas educacionais que envolvam escolas, prefeitura e comunidades locais, capazes de possibilitar a criação de espaços dialógicos votados para a reflexão acerca dos problemas socioambientais presentes no município;

 6 Instituir, no espaço escolar, um sistema integrado de debates e apresentações, em parceriacom empresas privadas do município, membros da comunidade e poder público, no sentido de mobilizar a população na direção da revalorização de práticas socioambientais sustentáveis;

 7 Criação de um banco de Imagem e Oralidade para que os registros obtidos nas pesquisas, depois de selecionados, organizados e armazenados, sejam postos a disposição tanto de professores/pesquisadores da UFG, como daqueles pertencentes à Secretaria Municipal de Ensino de Aparecida de Goiânia.