REATIVAR: Rede de Estudos, atividades ambientais e resiliências

O que são os projetos da rede REATIVAR?

Os projetos que compõe a rede Reativar se estruturam sobre dois pilares: O primeiro voltado para o ensino e a pesquisa; o segundo orientado para ações de extensão.  Enquanto o primeiro se ocupa com estudos etnoecológicos e socioambientais aplicados ao ensino de história e áreas afins, o segundo, sob a forma de extensão universitária, dá materialidade a esses estudos atuando no campo das ideias sobre autonomia das unidades domésticas, soberania alimentar e nutricional, e promoção da diversidade cultural e ecológica junto a moradores de setores periféricos da grande Goiânia em situação de vulnerabilidade social. Todas essas ações se dão por meio da interação entre professores e alunos da rede Reativar e de três importantes parcerias: O Centro Primavesi de Agroecologia – CEPA, da Escola de Agronomia; o Núcleo Takinahaky de Formação Superior Indígena – NTFSI, da Faculdade de Letras; e o Grupo Narratividade de performances narrativas.

 

De que maneira as ações da rede REATIVAR se materializam, dentro e fora da UFG?

Integrando os pilares acima descritos (ensino, pesquisa e extensão), as iniciativas da rede Reativar tem oportunizado uma série de iniciativas que podem ser enumeradas da seguinte forma:

  • Projetos de historia ambiental e de educação ambiental realizados em escolas da Secretaria Municipal de Ensino de Aparecida de Goiânia, entre os anos de 2013 – 2017;
  • Oferecimento de Minicursos sobre agroecologia a professores e professoras da Secretaria Municipal de Ensino de Aparecida de Goiânia, realizados no Centro Primavesi de Agroecologia – CEPA, da Escola de Agronomia da UFG, sob a supervisão da Profa. Dra. Gislene Auxiliadora Ferreira;
  • Oferecimento do Curso “De volta a Terra”, de Agroecologia Aplicado a Quintais e Espaços Escolares, sob a supervisão da Profa. Dra. Gislene Auxiliador Ferreira;
  • Concursos de Mini Causos entre alunas e alunos da secretaria Municipal de Ensino de Aparecida de Goiânia, em parceria com o Grupo Narratividade;
  • Implantação de estações agroecológicas em escolas municipais de Goiânia, da região norte, envolvendo professores, alunos e comunidade;  
  • Mapeamento etnobotânico no residencial Orlando de Moraes e adjacências;
  • Criação da Coleção Reativar para publicação de livros didáticos, produzidos no âmbito das ações do projeto;
  • Orientação de dissertações e teses, para alunos dos programas de pós-graduação da Faculdade de História da UFG cujos temas se ligam às problemáticas socioambientais tratadas no âmbito da rede Reativar;
  • Produção de artigos atinentes às questões de interesse do projeto;

 

O que motivou a criação da ação de extensão da rede REATIVAR?

O grupo de pesquisadores envolvido na rede Reativar combinam entre si múltiplas abordagens como a ecológica, a decolonial e a artística para ampliar a compreensão sobre os complexos processos históricos de deslocamento e ocupação, tanto de grupos de remanescentes de quilombos como de populações rurais e indígenas.  E foi com essa combinação de abordagens que nos foi possível perceber, entre as populações que compõe as regiões periféricas da grande Goiânia, a presença de um enorme potencial biocultural, porém, historicamente invisibilizado devido a um conjunto de equívocos. Assim, a partir desta percepção, foi criado o projeto de extensão denominado Reativar: agroecologias e interculturalidades.

 

O potencial biolcultural como motor das ações de extensão da rede REATIVAR

A história da formação da região de Goiânia e seu entorno, a qual se denomina Grande Goiânia é indissociável de um amplo e intrincado processo de migração a partir do qual chegaram (e chegam) milhares de migrantes, oriundos principalmente das regiões norte e nordeste do Brasil, quase sempre deslocados devido à ocorrência de variados tipos de impactos socioambientais negativos. Evidenciamos, entretanto, que os problemas decorrentes desse enorme fluxo de migração têm sido historicamente analisados de maneira superficial, o que tem originado dois tipos de simplificações: O primeiro é o de tomar as regiões periféricas da Grande Goiânia como sendo simplesmente um espaço de recepção para populações deslocadas, ou seja, uma grande periferia apropriada ao assentamento de pessoas malogradas em seus lugares de origem; o segundo consiste em querer achar respostas e soluções para os impactos socioambientais decorrentes de tal migração olhando somente para as questões ligadas a infraestrutura (geração de energia, o sistema de transporte, telecomunicações, saneamento, instituições educacionais, de segurança pública, de saúde, entre outros). Pois bem, em nossas abordagens, passamos a substituir tais simplificações por duas importantes percepções: Primeiro, a de que tais espaços periféricos não devem ser vistos como simplesmente uma espécie de etapa final de histórias de impactos socioambientais que começam em zonas rurais e que culminam em fluxos migratórios para as periferias de grandes centros urbanos. Antes, devem ser vistos como fronteiras de encontros de saberes, e, por conseguinte, lugares de emergência de novos sistemas complexos adaptativos, o que os tornam espaços interculturais de grande potência criativa e de adaptação às condições adversas criadas no, e pelo Sistema Mundo Capitalista; e segundo, que os impactos socioambientais que ora afetam tal população migrante somente poderão ser eficazmente mitigados se, para além da atenção aos problemas de infraestrutura, também forem criadas ferramentas adequadas capazes de substituir as virulentas práticas de negação, discriminação, racialização e inferiorização dos múltiplos saberes do migrante por outras que valorizem a circulação e o uso desses saberes com o fim de propiciar entre essas comunidades a reativação de suas memórias e práticas bioculturais proporcionando a recriação de redes de reciprocidade voltadas para alternativas de desenvolvimento humano com base em modelos do tipo socioeconomias solidárias. Essas memórias bioculturais a que nos referimos fazem parte de um complexo arsenal de estratégias, historicamente construídas pelas populações humanas, voltadas para produção de sistemas adaptativos às múltiplas e mutantes condições impostas pela biosfera. Assim, um dos interesses centrais da abordagem agroecológica para este projeto é o do fortalecimento do diálogo de saberes e também, como nos dizem TOLEDO e BARRERA-BASSOLS (2015),

Mostrar a cegueira da modernidade e a sua incapacidade de recordar, o que, consequentemente, torna necessário volver o olhar para os povos originários, tradicionais ou indígenas, em cujos modos de vida – materiais e imateriais – é possível encontrar a memória da espécie. E é nessa memória que está boa parte das chaves para decifrar, compreender e superar a crise dessa modernidade, ao reconhecer outras formas de conviver entre nós e com os outros – entre os modernos e os pré-modernos e entre os humanos e os não humanos, isto é, a natureza ou as culturalezas.

E é com base nesse potencial biocultural que as ações deste projeto buscam integrar comunidades de bairro, universidade e estudantes de diferentes formações (origens e etnias), no intuito de provocar a capacitação intelectual de todos os envolvidos ampliando a formação de redes de reciprocidade voltadas para a criação de alternativas socioambientais de desenvolvimento humano em espaços Urbanos e Periurbanos.